A ÁFRICA VAI REGISTAR UM BOOM DE CENTROS DE DADOS COM A CHEGADA DE NOVOS CABOS SUBMARINOS?

A conectividade digital em África está a acelerar.  À medida que a procura de conectividade à Internet aumenta, também aumentam os investimentos em novos cabos submarinos e centros de dados em África. 

A chegada iminente dos cabos PEACE, Equiano, 2Africa, Africa-1 e outros trará ao continente a tão necessária capacidade adicional de largura de banda, mas isso não colmatará de imediato o fosso digital nem ligará automaticamente os mais de 60% da população do continente que atualmente não têm acesso à Internet.  Muito mais terá de ser feito para reduzir o fosso. 

A chave está na expansão da pegada dos centros de dados em todo o continente e na criação de centros digitais que possam apoiar e estimular as redes que ajudarão as empresas e os negócios a crescerem em todo o continente africano.  Uma vez que muitos países africanos não têm acesso ao mar, esta é uma abordagem lógica, pois a expansão das redes terrestres, a construção de novos centros de dados e a promoção de centros digitais aproximarão a conectividade e os recursos digitais das comunidades em desenvolvimento de África.

OS PÓLOS DIGITAIS SERÃO A NOVA ESPINHA DORSAL DA INFRAESTRUTURA DE CONECTIVIDADE

O desenvolvimento de plataformas digitais será fundamental para facilitar e apoiar a expansão das redes locais e garantir uma verdadeira conectividade continental.

As redes de fibra ótica e os centros de dados geograficamente distribuídos constituirão a nova infraestrutura de base para o futuro crescimento económico de África. No entanto, de acordo com alguns relatórios, estima-se que a procura de centros de dados poderá exceder a oferta em mais de 300% nos próximos anos, pelo que os investidores e arquitetos destes centros digitais terão de estar atentos a este facto – e ter a apetência para enfrentar os desafios da eletricidade e do combustível necessários para conduzir e arrefecer continuamente estes centros sofisticados.

Países como Angola estão a promover progressivamente a capital do país, Luanda, como um importante centro ou intersecção digital no continente. Atualmente, é um importante ponto de troca de dados para grande parte dos dados da Internet que são transmitidos de e para a África Subsariana.  A construção de centros de dados neutros, que permitem a colocação segura de dados, constitui o ponto de partida ou a ponte para trazer conteúdos ricos em dados e serviços diversos para uma localização local.

O aumento das infra-estruturas terrestres, das redes e das operações de centros de dados em África está a ser possível através de pontos de aterragem internacionais, como Luanda, e constituirá um ponto de acesso neutro para futuros cabos submarinos, à medida que aumenta a procura de serviços digitais. Esses pontos de aterragem neutros e a construção de centros de dados neutros devem ser incentivados, uma vez que ajudarão a expandir os ecossistemas de rede locais que geram novas oportunidades de negócio.

SERÃO NECESSÁRIOS CENTROS DE DADOS PARA ARMAZENAR O AUMENTO EXPONENCIAL DE DADOS

De acordo com a Cloudscene, existem atualmente 121 centros de dados em África, 91 dos quais são neutros em termos de operador e, do número total de centros de dados, 70 foram construídos nos últimos 5 anos.

A transferência e o armazenamento de dados crescerão exponencialmente à medida que a procura de serviços em nuvem e o acesso às tecnologias 4G e 5G e aos smartphones se tornarem mais acessíveis em mais partes do continente. Será necessária uma maior capacidade dos centros de dados.

O que será essencial para ajudar a facilitar a rápida adoção de novas tecnologias e serviços é a necessidade de as estações de cabo e os centros de dados serem neutros em termos de rede – ou, por outras palavras, permitirem a co-localização e a partilha de serviços entre várias operadoras de telecomunicações e fornecedores de serviços de colocação. 

Outro aspeto importante na expansão das redes de centros de dados é a segurança e a soberania dos dados. Tornou-se uma questão atual e importante para o sector. O “onshoring” e o armazenamento de dados em centros de dados locais facilita o cumprimento e a gestão dos dados no âmbito dos requisitos destas leis. Cada país promulgou, ou promulgará, as suas próprias leis específicas para proteger a integridade e a privacidade dos dados, e os operadores de centros de dados, os fornecedores de conteúdos e os fornecedores de serviços de computação em nuvem terão de as cumprir.

O ACESSO A DADOS E CONTEÚDOS IMPULSIONARÁ O COMÉRCIO E O DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO 

A digitalização não é apenas um facilitador, mas é hoje uma necessidade para a atividade económica. À medida que a população africana migra dos telemóveis para os telemóveis inteligentes, mais dados serão armazenados e consumidos.  Também as empresas vão querer tirar partido dos serviços digitais e das aplicações em linha, que utilizarão mais dados.  E à medida que nos aventuramos na era da IA, mais sectores da economia procurarão desenvolver soluções baseadas na tecnologia que são impulsionadas por grandes quantidades de dados. Será imperativo que as indústrias com utilização intensiva de dados, como as finanças, os cuidados de saúde e o comércio eletrónico, disponham de uma conetividade segura e de baixa latência que lhes permita expandir os seus negócios se quiserem competir a nível global.

PROMOVER A INOVAÇÃO DIGITAL E AS EMPRESAS TECNOLÓGICAS EM FASE DE ARRANQUE EM ÁFRICA

A chegada prevista de novos cabos submarinos não só facilitará o acesso aos mercados internacionais, como também promoverá um ambiente propício à inovação digital e ao crescimento de empresas tecnológicas em fase de arranque. Com uma melhor conetividade à Internet, os empresários africanos podem colaborar sem problemas com parceiros globais, aceder a tecnologias de ponta e tirar partido de recursos baseados na nuvem para desenvolver produtos e serviços inovadores. A promoção de centros digitais será uma forma de incentivar o investimento e a participação em empresas novas, inovadoras e orientadas para a tecnologia. Locais como Lagos, na Nigéria, Kigali, no Ruanda, e Nairobi, no Quénia, são já pólos técnicos prósperos que proporcionam oportunidades de desenvolvimento empresarial e emprego.

LEVAR CAPACIDADE ADICIONAL DE CABO A TODAS AS PARTES DE ÁFRICA, É O VERDADEIRO DESAFIO

Os cabos submarinos existentes, como o Sistema de Cabos do Atlântico Ocidental (WACS), que liga África à Europa, e o Sistema de Cabos do Atlântico Sul (SACS), que liga África às Américas, continuam a ser os principais vectores da conetividade digital de e para África e continuarão a sê-lo durante algum tempo. A prometida chegada dos cabos de hiperescala, como o Equiano e o Peace, trará uma nova capacidade de transmissão de dados para o continente. No entanto, o verdadeiro desafio que se coloca é o de saber como é que os líderes africanos irão realizar os investimentos e incentivos necessários para garantir que os transportadores, os fornecedores de redes móveis, os hiperescaladores e outros fornecedores de serviços consigam cimentar as parcerias para ligar os novos cabos às redes terrestres e aos centros de dados neutros em todo o continente.

Isto não acontecerá de um dia para o outro, nem no próximo ano, mas o prémio de uma África conectada para todos é certamente um objetivo que vale a pena almejar.

Autor: Lucenildo Júnior, Director Técnico da Angola Cables